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LEI DE DIREITOS AUTORAIS 9.610 / 98
Em Minas Gerais, nos arredores da cidade de Campanha, residia o então fazendeiro Antonio Joaquim Melchior de Camargo , uma pessoa abastada, cuja fortuna vinha de sua família e do labor em suas terras, com a criação de animais e comercialização de escravos. Surgia o ano de 1840. Em busca de outras paragens seguia a família Melchior, indo do sul de Minas Gerais, para a Vila de Botucatu, a boca do Sertão do Estado de São Paulo. As matas, os banhados, os animais silvestres e os índios compunham o cenário daquela viagem que durou dias e dias. Com a família, seguiam muitos escravos, grandes rebanhos, carros de boi e nas veias, o sangue desbravador. Tudo era sofrimento. As onças, segundo Maria Rita e Augusto Antonio, respectivamente neta e bisneto de Antonio Joaquim, dificilmente deixavam passar uma semana em que não morresse um escravo atacado por elas ou, picados por cobras, trucidados pelos índios ou afetados pela malária, meningite ou outro tipo de febre. Para dormir faziam estaleiros de palmitos e os cobriam com suas folhas. Era grande o número de mortes por falta de recursos.
O medo dominava as pessoas. Uma noite, estava um escravo dormindo em um estaleiro construído em uma descida; durante o sono, o escravo caiu e, sobre ele uma folha do palmiteiro. Amedrontado, pensando ser uma onça que o estava devorando disse: “Come zim nego onça, oce já pego memo agora come”. Ao perceber que nada o estava atacando, abriu os olhos na escuridão um pouco clareada pela fogueira e viu que era a folha do palmito que caíra sobre ele. Aliviado, subiu novamente no estaleiro.
A caça aos queixadas, catetos, capivaras e codornas era o meio de conseguir carne fresca; medicamentos eram feitos de ervas e para curar as feridas que se formavam com as picadas dos mosquitos, usavam o óleo de copaíba extraído do tronco da copaibeira.
Apesar de latifundiários muito ricos, a vida era difícil. Fizeram derrubadas na mata, ergueram ranchos - conforme fotos de Maria Rita - onde habitaram até formarem as fazendas Lageado, Palmeiras, Jacutinga, Córrego do Rosário, nos arredores de Avaré e Botucatu.
Antonio Joaquim Melchior de Camargo era filho de Antonio José Belchior e Joaquina Maria do Espírito Santo (ou Joaquina Maria da Rocha Camargo). Foi casado em primeiras núpcias com Delphina Maria de Jesus, com um qual teve um filho, José Delphino de Camargo. Viúvo, casou-se com Emerenciana Maria de Jesus e teve como filhas: Ana Joaquina, Eduarda Maria, Faustina Brígida e Caetana. Em 16.11.1863, com cerca de 30 anos, Emerenciana vem a óbito. Foi sepultada no Cemitério da Capela de Nossa Senhora das Dores do Rio Novo, atual Avaré, SP (conforme microfilme número 1253054 do registro civil de Avaré).
Viúvo novamente, Antonio Joaquim casou-se com Mathildes Maria de Jesus (ou Mathildes Maria Vieira Martins) em 31.05.1864 na Matriz de Nossa Senhora de Sant'Anna, em Botucatu, SP, na presença das testemunhas: Francisco Antonio Diniz, Martiniano Miguel Pereira. Receberam as bênçãos nupciais pelas 9 horas da manhã.
Mathildes Maria, nascida em Casa Branca, SP, era filha de Antonio Florêncio Martins e Anna Angélica Vieira e Silva. Anna Angélica era parente de Domingos Vieira e Silva, fundador da cidade de Alfenas, MG e de João Batista Vieira e Silva, fundador da cidade de Paraguaçu Paulista, SP. Antonio Joaquim e Mathildes tiveram os filhos: Joanna Batista, Antonio Lazário Melchior (meu bisavó), Maria Cassiana, Silveria Maria, Maximiniana Ciliria, Maria Ângela, Luiza Dionizia, Licerio Theodoro Melchior, Marianna Olympia e João Antonio Melchior.
Em 1871, Antonio Joaquim Melchior de Camargo adquiriu de José Teodoro de Souza, a Fazenda Pouso Alegre com 22.000 alqueires. Para comprovar que José Teodoro de Souza era proprietário dessas terras, existia apenas um documento, um cadastro feito pela Igreja de Botucatu para fins estatísticos ou, um ”registro do vigário”, ”registro paroquial”, não reconhecido como documento de propriedade. Estas terras ficavam próximas a Campos Novos do Paranapanema (atual Campos Novos Paulista, SP), sertão adentro. Para regularizar as terras adquiridas, Antonio Joaquim Melchior de Camargo, homem inteligente e de grande visão entrou com um requerimento de avaliação de terras para a legitimação da fazenda. Coube ao juiz comissário, cidadão Theodoro de Camargo Prado, nomeado pelo governo, esta tarefa. Depois de feita a medição, examinados os autos e tendo sido comprovado que estas terras eram moradas habituais da família, foi-lhe concedido o 'título de posse' pelo Presidente da Província. Posteriormente, a fazenda Pouso Alegre foi dividida em outras fazendas como: Roseta, Fortuna, Água do Melchior, Potreirinho, Cervo, Cardoso de Almeida, Pitangueiras, Capivara, Pinga, Boa Sorte, etc.. Antonio Joaquim Melchior de Camargo era pardo, neto de uma escrava e de um francês, este, um senhor de engenho em Minas Gerais. Doente, com hidropisia, sendo muito religioso ou talvez pela doença e em busca de cura, desejou construir uma Igreja em louvor a sua santa de devoção. Doou 750 braças em quadra (75 alqueires) de terras pertencentes à fazenda Pitangueiras para construção de um patrimônio em louvor a Nossa Senhora do Patrocínio. É onde se localiza hoje a cidade de Maracaí. Este patrimônio foi doado conforme escritura datada de 09.11.1890, e conforme a vontade de Antonio Joaquim e sua esposa Mathildes, seria este o dia consagrado ao aniversário do município.
Antonio Joaquim Melchior de Camargo faleceu dois anos após a doação, em 11/08/1892, com 78 anos; foi sepultado no cemitério de Conceição de Monte Alegre, hoje distrito de Paraguaçu Paulista, SP. Viúva, Mathildes Maria Vieira Martins Melchior, dona-de-casa e iletrada, colocou seu irmão Joaquim Martins da Silva, que era juiz de paz em Conceição de Monte Alegre, como seu procurador pois não tinha condições de administrar tamanha fortuna. Anos após, doente de um tumor maligno, talvez procurando uma cura também, em 15.01.1898, Mathildes Maria doou o patrimônio de São Sebastião da Roseta para o santo São Sebastião, com 31 alqueires, juntamente com sua família.
Conforme a escritura, o patrimônio de Nossa Senhora do Patrocínio possuía ”750 braças em quadra (75 alqueires). Cujo limite de medida e o seguinte, começando na dita Água das Pitangueiras, em sua cabeceira e por a mesma abaixo atté onde completarem as ditas 750 braças. Do lado esquerdo da dita água medindo com as terras de Marcelino Antonio Diniz; e pelo outro lado dividindo com o mesmo doador (terras do próprio Antonio Joaquim). Por ser esta de nozsa livre vontade por preço e quantia de R $ 200 $ 000 ”. No documento citado consta que, por serem Antonio Joaquim e Mathildes Maria iletrados, assinaram a escritura a rogo dos doadores, Salviano José Nogueira, Belizário Nogueira Marmontel, Manoel Antonio do Nascimento e Dr. Antonio Lazário Melchior. Assinou o tabelião | João da Silva Ribeiro.
O povoado de Nossa Senhora do Patrocínio das Pitangueiras, foi distrito policial de Conceição de Monte Alegre. Sua padroeira é Nossa Senhora do Patrocínio e anualmente é comemorado este dia na data de 15 de agosto. Foi elevado a distrito de Paz pela Lei número 1650 de 11 de setembro de 1919 e instalado a 17 de janeiro de 1920 com a denominação de Maracaí que significa Rio dos Chocalhos em tupi-guarani. Maracaí foi elevada a um município, na comarca de Assis, através da Lei Estadual número 2000 de 19 de dezembro de 1924 e instalada a 24 de março de 1925. O primeiro padre de Maracaí chamava-se Paulo de Mayo.
Relação dos prefeitos de Maracaí
Nome | Inicio | Término | |
1 | Cel. Azarias Ribeiro | 24 de março de 1925 | 10 de fevereiro de 1928 |
2
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Alfredo Garcia Duarte
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11 de fevereiro de 1928
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05 de novembro de 1928
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3
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Pedro Gonçalves da Mota
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6 de novembro de 1928
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08 de dezembro de 1930
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4
|
José Severino de Almeida
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10 de dezembro de 1930
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08 de julho de 1932
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5
|
Aureliano Rodrigues Siqueira
|
09 de julho de 1932
|
29 de julho de 1932
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6
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Pedro Correia Ribeiro
|
30 de julho de 1932
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12 de agosto de 1936
|
7
|
Antônio Pereira Oliveira
|
12 de agosto de 1936
|
5 de janeiro de 1938
|
8
|
Dr. Afonso Faria Fraga
|
6 de janeiro de 1938
|
10 de abril de 1938
|
9
|
Pedro Correia Ribeiro
|
11 de abril de 1938
|
30 de julho de 1938
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10
|
Juversino Cunha
|
31 de julho de 1938
|
22 de novembro de 1945
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11
|
Wilson Silveira Nogueira
|
23 de novembro de 1945
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29 de dezembro de 1945
|
12
|
Juversino Cunha
|
30 de dezembro de 1945
|
29 de setembro de 1946
|
13
|
Otto Ribeiro
|
28 de setembro de 1946
|
31 de março de 1947
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14
|
Cacilda Prestes
|
1 de abril de 1947
|
29 de abril de 1947
|
15
|
Abilio Costa Ribeiro
|
30 de abril de 1947
|
2 de Janeiro de 1948
|
16
|
Otto Ribeiro
|
3 de janeiro de 1948
|
3 de dezembro de 1950
|
17
|
Carlos Alberto Bergamasco
|
1 de Janeiro de 1951
|
30 de dezembro de 1955
|
18
|
Antônio José de Carvalho
|
1 de Janeiro de 1956
|
31 de dezembro de 1959
|
19
|
Douglas Siqueira
|
1 de Janeiro de 1960
|
31 de dezembro de 1963
|
20
|
Jaime agulhão
|
1 de Janeiro de 1964
|
31 de janeiro de 1969
|
21
|
Douglas Siqueira
|
1 de fevereiro de 1969
|
11 de julho de 1972
|
22
|
Orlando Blefari
|
12 de julho de 1972
|
30 de Janeiro de 1973
|
23
|
Antônio Silva Cavalheiro
|
31 de janeiro de 1973
|
31 de janeiro de 1977
|
24
|
Elifaz Demane
|
1 de fevereiro de 1977
|
31 de janeiro de 1983
|
25
|
Antônio silva Cavalheiro
|
1 de fevereiro de 1983
|
31 de dezembro de 1988
|
26
|
Ademio Fetter
|
1 de Janeiro de 1989
|
31 de dezembro de 1992
|
27
|
Dr. José Roberto Brasil Machado
|
1 de Janeiro de 1993
|
31 de dezembro de 1996
|
28
|
Antônio Silva Cavalheiro
|
1 de Janeiro de 1997
|
31 de dezembro de 2000
|
29
|
Antônio Silva Cavalheiro
|
1 de Janeiro de 2001
|
31 de dezembro de 2004
|
30
|
Roberto de Almeida
|
1 de Janeiro de 2005
|
31 de dezembro de 2008
|
31
|
Elizabete de Carvalho Fetter
|
1 de Janeiro de 2009
|
Fontes de Pesquisa
· Arquivo Nacional - http://www.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm.
· Primeiro Tabelião de Notas de Botucatu, SP.
· Primeiro Tabelião de Notas e Protesto de Letras e Títulos de Assis, SP.
· Cúria Diocesana de Botucatu, SP.
· Prefeitura Municipal de Maracaí, SP.
· Microfilmes da Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias (Mórmons).
· Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais e Tabelião de Notas de Conceição de Monte Alegre e Paraguaçu Paulista, SP.
· Arquivo do Fórum de Assis, SP.
· Registro Civil do Município de Jaguapitã, PR.
· Registro Civil do Município de Alvorada do Sul, PR.
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Matriz de Sant 'Ana onde se casaram Antonio Joaquim Melchior de Camargo e Mathildes Maria. |
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Maria Rita, neta de Antonio Joaquim Melchior de Camargo. |
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Augusto Antônio, bisneto de Antonio Joaquim Melchior de Camargo. |
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Ireni, trineta de Antonio Joaquim Melchior de Camargo (Festa de Santo Reis Ajicê, SP). |
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Cemitério de Conceição de Monte Alegre, onde este sepultado Antonio Joaquim Melchior de Camargo e mais de 200 pessoas da família Melchior |
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Adicionar legenda |
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Paço Municipal de Maracaí, SP. |
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Ponte sobre o Ribeirão do Cervo, Maracaí, SP. |
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Ribeirão do Cervo, em Maracai-SP Pesquisado por Ireni dos Santos Braga, trineta de Antônio Joaquim Melchior de Camargo. LEI DE DIREITOS AUTORAIS 9.610 / 98 |
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